Vamos ser específicos: segundo esta teoria, a FIFA combinou tudo para a Alemanha ganhar: combinou com os árbitros, talvez com as equipas adversárias, talvez tenha mesmo dado uma palavrinha ao Cristo-Rei para ver se ajudava. É essa a ideia, certo? A FIFA tinha interesse em ver a Alemanha ganhar e armou uma conspiração para que isso acontecesse, conspiração essa que tinha de incluir árbitros e jogadores que teriam de agir às claras, perante o mundo inteiro.
Portanto, num Mundial em território brasileiro, em que a FIFA tinha todo o interesse em levar a equipa da casa até à final; em que a FIFA tinha todo o interesse em levar os EUA o mais longe possível (porque se há coisa que interessa à FIFA é aumentar o interesse norte-americano pelo futebol); em que a Alemanha ganhou 7-1 ao Brasil (e 4-0 a Portugal), mas empatou com o Gana (se calhar o Gana dá-se mal com a corrupção, ou foi só para disfarçar?); em que todos vimos, em directo, os jogos… — é óbvio que houve uma conspiração, certo? A Alemanha não jogou melhor. Estava tudo combinado, certo? A FIFA arriscou mesmo tudo só para garantir que esta equipa específica ganhava.
Bolas, a FIFA pode ser criticada por tanta coisa… É mesmo preciso inventar?
Na ausência de provas ou indícios sólidos, a probabilidade desta teoria é mínima. Ora, provas e indícios, não há. Motivo, não há. Não há nada. Mas o que interessa isso? Que interessa a absurda improbabilidade duma conspiração sem motivo e sem indícios? Se pensar assim nos ajuda a encaixar melhor uma derrota, então é óbvio que houve uma conspiração e quem não concorda é parvo. Aliás, quem não concorda só pode estar feito com a Merkel!
O que me preocupa é que este padrão de pensamento é usado em muitos assuntos, que vão muito para lá do futebol, com consequências bem reais (no caso, por exemplo, do movimento anti-vacinas).
(E pronto, este último parágrafo lá justificou a presença deste post num blog sobre ciência.)
Fifa world cup org (Photo credit: Wikipedia) |